As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Visitantes estrangeiros vão a Israel desvendar o Holocausto


Em Yad Vashem, memorial do Holocausto, educadores de vários países buscam por respostas universais nas lições individuais do genocídio.

FONTE: www.ig.com.br by The New York Times | 20/02/2012 07:02

Os alunos não foram poupados de nada. Tiveram sessões acerca das discussões entre os nazistas sobre como iriam matar os judeus; a arte da propaganda do Terceiro Reich; encontros com sobreviventes; uma história do anti-semitismo; os dilemas enfrentados pelos líderes do conselho do gueto judeu.



Foi exatamente o que se podia esperar de um seminário de dez dias no Yad Vashem, museu e memorial do Holocausto localizado em Israel. A surpresa na verdade foram os alunos: 35 professores de Taiwan, nenhum deles especialistas na área, a maioria dos quais nunca sequer tinham conhecido um judeu. Mais surpreendente ainda foram algumas das lições que alguns levaram consigo.
























"Antes de visitar o memorial, eu não sabia muita coisa à respeito do Holocausto e não me sentia bem com isso", disse Jen-Hsiu Mei, um psicólogo e educador do jardim de infância. "Essa semana, eu aprendi que dentro dos campos de concentração as pessoas se ajudavam. Para mim, isso é algo que dá um novo significado aos valores humanos. Isso não é algo que eu esperava aprender aqui - sobre a esperança".





Sete décadas depois do Holocausto, com os seus sobreviventes envelhecendo e morrendo, a chacina mais sistemática da história da humanidade está assumindo um papel cada vez maior e surpreendente no sistema educacional ao redor do mundo. O Yad Vashem, que abriu sua filial internacional de ensino na década de 1990, produz material em mais de 20 línguas, está ativo em 55 países e faz cerca de 70 seminários por ano para grupos de educadores que visitam o local.
Embora muitos acreditem que para tornar o assunto um conceito universal, é importante falar sobre o Holocausto no contexto de outros genocídios - Ruanda, Armênia e Camboja - a tendência do Yad Vashem é a de fazer o oposto disso, procurando se aprofundar nos detalhes da matança dos 6 milhões de judeus.
"Esse é o fenômeno mais complicado da história da humanidade", disse Avner Shalev, presidente do Yad Vashem. "Como isso pode acontecer? Como é que a democracia parou de funcionar tão rapidamente? Como foi possível isso acontecer no auge do liberalismo? A única maneira de compreendê-lo é por meio dos detalhes."

Yad Vashem tem crescido nos últimos anos passando de apenas um grupo de prédios em volta de um cenário bucólico para um movimentado campus de pesquisa, documentação, ensino e lembranças com um orçamento anual de US$ 45 milhões. Ele acaba de inaugurar um novo prédio para sua escola de educação internacional que contém salas de aula espaçosas e artefatos de alta tecnologia que lhe permitem realizar palestras para telespectadores no exterior.
Talvez o mais interessante no meio disso tudo é a maneira como o Holocausto está sendo ensinado e o que os alunos ao redor do mundo fazem com esse conhecimento. "Vivemos em uma época em que os jovens sabem pouco, porém tentam expressar grandes opiniões", disse Dorit Novak, diretora da Escola Internacional Yad Vashem para os Estudos do Holocausto.
"O regime nazista queria apagar qualquer vestígio do povo judeu. Se você não entende isso, você não irá conseguir entender o evento por completo. Mas, paradoxalmente, quanto mais você se aprofundar nos fatos e em seus elementos, menos ele se torna um assunto apenas judaico. Ele se torna mais universal."
O que ela quis dizer é que a maneira como um indivíduo lida com o mal pode ser compreendida em uma grande variedade de contextos. Além disso, identificar as fases do Holocausto - que começou lentamente, com um boicote às empresas judaicas, seguido por leis contra a "superlotação" nas escolas alemãs - pode ajudar a conter as tendências futuras em relação a discriminação e assassinatos em massa.
"O Holocausto não só mostra como a humanidade pode atingir um nível inferior de comportamento, mas também o quão superior ela pode ser também", acrescentou. "Alguém em um campo de concentração que compartilhou o seu pão velho com um amigo faz a palavra amizade ganhar um novo significado."
Novak disse que o número daqueles que passam pela escola é incrível. Ela lembra de ter perguntado a um grupo de berberes do Marrocos em um seminário por que tinham ido visitar o local. "Eles disseram que em seu país estavam tentando reconstruir a história berbere que havia sido ignorada ou perdida, e que tinham vindo para Yad Vashem para aprender a como se lembrar", disse.
Nicolas Paz Alcalde, da aldeia de Jerte, na Espanha, disse entender o que queriam dizer. Ele e sua esposa administram uma escola para estrangeiros que procuram aprender a língua espanhola e descobriram que a antiga casa de pedra na qual sua escola está localizada tinha sido uma sinagoga até a Espanha ter expulsado os judeus no século 15.
"Isso ajudou a gente criar uma relação muito direta e emocional com a história judaica, e eu e minha esposa decidimos ir a Yad Vashem para estudar o Holocausto", disse por telefone. "As pessoas estão cada vez mais despreocupadas com a história, e nós sentimos uma obrigação moral de trazer a memória do Holocausto à tona para elas."
Ele escreveu uma peça sobre os dilemas de um professor de ética no Gueto da Varsóvia, nos anos 1940, e recrutou moradores para participarem da peça e a apresentou várias vezes nas escolas e centros comunitários de sua região.
Apesar de o mundo estar cada vez mais conscientizado sobre o Holocausto, em Israel há uma preocupação entre os liberais de que o assunto tem um papel grande demais na narrativa nacional, fazendo com que o país tenha a mentalidade de uma constante vítima.
Uma pesquisa feita com judeus israelenses em 2009 revelou que a única questão na qual houve uma concordância quase universal era a da necessidade de lembrar o Holocausto. Citando a pesquisa, Merav Michaeli, uma colunista do jornal Haaretz, afirmou que "o Holocausto é o único prisma através do qual a nossa liderança, seguida pela sociedade em geral, analisa cada situação."
Ela acrescentou que a maneira na qual muitos israelenses enxergam os eventos mundiais, faz parecer com que "todas as nossas vidas sejam simplesmente um grande Shoah". Esse foi também um ponto de vista expresso por Avraham Burg, ex-presidente do Parlamento, publicado em seu livro “The Holocaust Is Over; We Must Rise from Its Ashes" ("O Holocausto Acabou; Devemos Renascer de Suas Cinzas", em tradução livre).

Foto: NYT
Grupo de professores de Taiwan em Yad Vashem, memorial do Holocausto e museu, em Jerusalém
Ele pediu ao Yad Vashem que criasse um tribunal internacional de crimes contra a humanidade, acrescentando: "Israel deve deixar Auschwitz para trás, porque Auschwitz é uma prisão mental. A vida dentro do campo de concentração se tratava da sobrevivência misturada com culpa e vitimologia".
Shalev, o presidente do Yad Vashem, afirmou que o Holocausto não deve ser a única fonte que venha a definir a identidade de Israel. Ainda assim, ele disse que o evento é claramente um elemento importante, acrescentando: "O Holocausto, de alguma forma, mantém unida a nossa identidade como povo. Ao mesmo tempo, o acúmulo de interesse sobre o Holocausto ao redor do mundo criou uma consciência sobre o conceito de genocídio em geral, e temos um papel importante a ser desempenhado nesse processo."
Os tawaineses que vieram estudar em Israel concordaram. Eles disseram que iam levar os ensinamentos que aprenderam no memorial de volta para casa e que aplicariam esses conceitos a questões locais que lidam com discriminação e até mesmo assédio moral em suas escolas.
Paz Alcalde, o professor de espanhol, disse que também acreditar que estudar os detalhes de um determinado conjunto de eventos foi o melhor caminho para conseguir fazer com que um conceito maior surgisse.
"Não vejo qualquer dicotomia entre o particular e o universal", disse. "A história do Holocausto é uma história de indivíduos e famílias reais, pessoas que também comemoravam aniversários e tinham sonhos. Uma vez que você começa a conhecê-los, a história deles se torna a sua história. "
Por Ethan Bronner



terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Folha localiza em Los Angeles fotógrafo da morte de Herzog

Fonte: Folha de São Paulo - Ilustríssima 05/02/2012


Uma revelação exclusiva é o destaque da "Ilustríssima" deste domingo (05/02): 


O repórter Lucas Ferraz, da Sucursal de Brasília, localizou em Los Angeles o autor da mais importante imagem da história do Brasil nos anos 1970 --a foto do jornalista Vladimir Herzog morto numa cela do DOI-Codi, em São Paulo, no ano de 1975.
Zen Sekizawa/Folhapres

Silvaldo Leung Vieira, o então fotógrafo da Polícia Civil de São Paulo localizado pela FolhaFotógrafo da Polícia Civil de São Paulo, o santista Silvaldo Leung Vieira, então com 22 anos, foi recrutado pelo Dops (Departamento de Ordem Social e Política) para uma de suas primeiras "aulas práticas": o registro do cadáver do jornalista, que havia comparecido espontaneamente ao DOI-Codi, após ter sido procurado por agentes da repressão em sua casa e na TV Cultura, onde trabalhava como diretor de jornalismo. Ele tinha ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro), mas não chegou a ter atividades na clandestinidade.

"Ainda carrego um triste sentimento de ter sido usado para montar essas mentiras", afirmou Silvado à Folha, por telefone.
Segundo relatos de testemunhas, Vlado, como era conhecido pelos amigos, foi torturado e espancado até a morte. A imagem produzida por Silvaldo ajudou a derrubar a versão do suicídio, uma vez que seu corpo pendia de uma altura de 1,63 m, com as pernas arqueadas e os pés no chão, o que torna altamente improvável que tenha se matado.

A morte gerou manifestações, como a famosa missa na catedral da Sé, em São Paulo, e contribuiu para que o presidente Ernesto Geisel e seu ministro Golbery do Couto e Silva vencessem a queda de braço com a linha dura da ditadura, que pedia um aperto na perseguição à esquerda, sob o argumento de que o país vivia a ameaça do comunismo.

Jornal do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo