As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

terça-feira, 30 de julho de 2013

Ciclo sobre Direitos Humanos

Caros leitores,

Neste mês de agosto participarei de um Ciclo de atividades sobre Direitos Humanos no Cursinho da Poli, na unidade Lapa, conforme aparece no cartaz abaixo.

As atividades serão abertas a interessados em geral, além dos alunos do Cursinho e dessa forma, quem tiver interesse, basta entrar em contato com o Cursinho e se inscrever!

Até breve, Elias.





segunda-feira, 22 de julho de 2013

Novos tempos, novas monarquias: abdicações e casamentos com plebeus


O tempo, dependendo do contexto, pode ser um precioso aliado ou um cruel inimigo.

No caso das monarquias, oscilou entre um lado e outro, ora fazendo com que guerras e revoluções derrubassem “coroas” de séculos de existência como os Bourbon na França (1589-1792/1815-1830) ou os Romanov na Rússia (1613-1917). Noutros casos, menos sangrentos, mas ainda assim golpistas, podemos citar a derrubada dos Bragança do Brasil em 1889 e Portugal em 1910, ambos por golpes de estado articulados pelos militares.

Na atualidade, as monarquias europeias remanescentes tem buscado uma progressiva modernização, aquilo que podemos definir como “uma lufada” de frescor e jovialidade, varrendo as teias do conservadorismo, mas sem abrir mão da tradição: herdeiros reais que estudaram em escolas (de elite ou nem tanto), casamento com plebeus e abdicações que passaram cetro e coroa para a nova geração.

Em 2011, o príncipe William, neto e 2° na linha de sucessão de Elizabeth II de Windsor, se casou com a plebeia (sua colega da Universidade de St. Andrews, Escócia) Catherine Middleton, a qual hoje dará a luz ao 3° na linha de sucessão de uma longeva monarquia de 15 séculos que, somente entre 1659 e 1660, não teve um monarca reinando, pois fora o período posterior a execução de Carlos I pela Revolução Puritana, ação que levou a ditadura republicana de Oliver Cromwell e com a restauração dos Stuart em 1660, ficou conhecido como interregnum, isto é, entre reinados em latim.

Em 30 de abril de 2013, a rainha Beatriz da Holanda abdicou em favor de seu filho, Guilherme Alexandre, o 1° rei da Holanda depois de uma longa sequência de rainhas como chefes de Estado: Guilhermina (1890-1948); Juliana (1948-1980) e Beatriz (1980-2013). O rei Guilherme Alexandre tem 46 e é casado com a economista argentina Máxima Zorreguieta, filha de  Jorge Zorreguieta (ministro do governo ditatorial do General Jorge Videla 1976-1981), e por conta disso, Jorge não foi autorizado a comparecer tanto no casamento da filha quanto na cerimônia de investidura da coroa.

Ontem, 21 de julho de 2013, foi a vez do rei Albert II da Bélgica abdicar em favor de seu filho, o príncipe herdeiro Philippe, depois de reinar por 20 anos (1993-2013) e devido à saúde debilitada e a idade (79 anos), a abdicação buscou renovar a monarquia belga que, tem atravessado momentos difíceis, pois o sentimento separatista tem crescido, fazendo com que a Bélgica rachasse em duas partes: uma  ao norte, Flandres região de língua holandesa e outra ao sul, a Valônia, de língua francesa. A tensão cresceu bastante nos últimos anos, em especial, entre 2009 e 2011, quando as eleições parlamentares  não conseguiram eleger uma maioria absoluta ou formar uma coligação para a gestão do governo.

No quesito busca de mudanças e  rearranjos na sociedade, o ramo sobrevivente da dinastia de Bourbon, reinante na Espanha desde 1715, com duas deposições (1873-74 e 1931-75), foi restaurada depois da morte do General Francisco Franco , ditador entre 1939 e 1975, com a ascensão ao trono do príncipe Juan Carlos, neto de Afonso XIII,  o herdeiro real Juan de Bourbon, o conde de Barcelona.

Juan Carlos foi criado na Espanha, sob a severa observação do ditador Franco, tendo se formado em estudos militares nas 3 Armas e depois se qualificado em Direito Político e Internacional, Finanças e Economia da Universidade Complutense de Madrid. Sua ascensão ao trono foi desdobramento de um processo até então, não pensado por Franco, pois seu sucessor seria o militar Luís Carrero Blanco, a quem passara a presidência do governo em 1973, cabendo a Blanco das continuidade ao franquismo. No entanto, um atentado à bomba assumido pelo grupo basco ETA, conhecido como “Operação Ogro Negro” o matou, quando Blanco se deslocava de carro para assistir a missa em sua paróquia na cidade de Madrid em 20 de dezembro de 1973. Uma carga de explosivos, instalada na tubulação de esgotos, na rua próxima à igreja frequentada por Blanco, que repetia rotineiramente, o mesmo trajeto. A magnitude da explosão fez com que seu carro fosse projetado para o alto, indo parar no teto de um pequeno prédio de 3 andares.

A morte de Blanco e a visível decadência de Franco abriram caminho para a transição política que faria da Espanha novamente uma democracia. Em 20 de novembro de 1975, Franco faleceu e Juan Carlos foi proclamado rei pelas Cortes de Espanha em 22 de novembro de 1975, abrindo caminho para a Lei de Reforma Política de 1976, estabelecendo os parâmetros constitucionais aprovada em 1978.
No entanto, em 1981, um movimento golpista de cunho militar tentou deter a consolidação da democracia, mas sem amplo apoio e contanto com a incisiva atuação de Juan Carlos na defesa da Constituição e das instituições democráticas.

Na atualidade, a Espanha atravessa uma terrível crise financeira, com cerca de 28% da população desempregada, medidas de austeridade que tem provocado o sofrimento de milhares de famílias. No entanto, a casa de Bourbon não teria adotado medidas tão austeras para seus padrões de vida, especialmente quanto ao hobby de Sua Majestade: a caça. Enquanto alguns estavam perdendo seus lares por inadimplência de seus financiamentos, Don Juan caçava elefantes em Botswana, no sul da África, em abril de 2012, fora outros episódios na Romênia matando ursos em 2004 e na Rússia em 2006.

Nos últimos meses, o noticiário espanhol tem apontado o envolvimento de membros da Família Real espanhola com negociatas relacionando desvio de verbas públicas e tráfico de influência. Este foi o caso da Infanta Cristina (filha mais nova do rei) e de seu marido, o ex-desportista Iñaki Urdangarin, que recebera o título de Duque de Palma, preside o Instituto Nóos, responsável pelo recebimento de 15 milhões de euros em relação a contratos firmados com os governos regionais das Ilhas Baleares e Valência.

O clima ficou tão tenso que grupos republicanos tem se movimentado para catalisar este momento e assim, colocar um referendo sobre a continuidade da monarquia e outro evento simbólico foram as vaias recebidas pelo Rei durante a final da “Copa del Rey” de basquete em 13 de fevereiro de 2013 e a outra pelos Príncipes de Astúrias, D. Felipe e sua esposa D. Letícia, futuros reis, que entraram no Gran Teatro del Liceo de Barcelona para assistirem a ópera “Elixir do Amor”(1832), de Gaetano Donizetti (1797-1848) em 31 de Maio de 2013. Apesar das vaias e gritos como “foteu el camp”, que em catalão significa “vão embora”, Suas Altezas ficaram, mas sendo também aplaudidos por outros.

Vale lembrar  que em setembro de 2012, cerca de 2 milhões de catalães ocuparam as ruas de Barcelona gritando por “independência” e o sentimento separatista nunca adormeceu por lá e talvez, a profunda crise que o país atravessa tem colocado na berlinda o futuro de Suas Majestades de Espanha.

Hoje, 22 de julho de 2013, às 12:24, nasceu um menino, que ainda não sabemos os nomes (lembrar que a realeza tem por hábito uma longa nomenclatura), mas sua família, os Windsor e seus súditos comemoraram, com salvas de canhões e bandeiras hasteadas, a chegada de “Sua Alteza Real”, mas não é possível prever se este menino, terá um dia, o cetro nas mãos e a coroa sobre sua cabeça.



O rei Faruk I, rei do Egito de 1932 a 1952, quando foi deposto por um golpe de Estado que levou ao poder os militares, disse que: “dentro em breve, só restarão cinco reis: o de ouros, o de paus, o de copas, o de espadas e o da Inglaterra”.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Do Absolutismo ao Parlamentarismo


A redução do poder real na Inglaterra tem seu início com a  Magna Carta (1215) imposta pela nobreza ao rei João Sem-Terra, o monarca ficava proibido de criar novos impostos e de administrar a justiça, que passavam a ser prerrogativas exclusivas do Parlamento, composto por nobres, burgueses e clero.


A 1ª legislação escrita do Reino inglês



            Significa dizer que, na Inglaterra, o estabelecimento de um poder verdadeiramente centralizado sempre enfrentou duríssimos obstáculos. Com as mãos atadas, os reis ingleses foram obrigados a lançar mão de uma série de recursos para ampliar seu poder, sendo o principal deles a perseguição religiosa deflagrada por Henrique VIII (1509-1547) contra os puritanos (calvinistas), que lideravam o Parlamento, e contra a Igreja Católica, grande proprietária de terras no país. Aliás, foram exatamente os monarcas da dinastia Tudor os responsáveis pela instalação do absolutismo entre os ingleses.

Ficheiro:Portrait of Edward VI of England.jpg
Eduardo VI, por Willian Scrots, c. 1547.


            Eduardo VI, filho e sucessor de Henrique VIII, reinou por pouco tempo (1547-1553), o que praticamente não afetou a reforma religiosa inglesa. Mas a sucessora de Eduardo VI, a católica Maria I, fora educada sob o rígido catolicismo da Espanha e restabeleceu essa religião na Inglaterra, perseguindo ferozmente os protestantes, o que lhe valeu a alcunha de Bloody Mary:  “Maria, a Sanguinária”.

Ficheiro:Maria Tudor1.jpg
Maria I, por Antônio Mouro c. 1554, Museo del Prado, Madrid, Espanha.

            Elizabeth I (1588-1603), filha do segundo casamento de Henrique VIII, continuou a obra do pai, perseguindo católicos e calvinistas que se opusessem a ela e ao seu poder. Construiu uma frota para aumentar o poderio inglês no mar e incentivou a pirataria, o que lhe garantiu renda para o financiamento da industrialização da Inglaterra. Foi durante seu governo que teve início o processo efetivo de colonização da América do Norte. Quando já tinha o respeito dos políticos e demonstrava dominar a arte da política, o Parlamento passou a ser convocado raramente e chegou perto de ser extinto.


Elizabeth I em trajes de coroação, c. 1559 National Galery of Portrait, Londres. 

AS REVOLUÇÕES INGLESAS 

Com a morte de Elizabeth I, seu primo Jaime Stuart assumiu o trono. Jaime I (quadro ao lado), que era escocês e católico, uniu o trono da Escócia ao da Inglaterra e tentou impor-se como rei absoluto, provocando sucessivos choques com o Parlamento.



            Carlos I (1628-1645), filho e sucessor de Jaime, prosseguiu a política centralizadora de seu pai, tentando recriar antigos impostos (ship-money). O Parlamento exigiu do rei o juramento da Petição de Direitos, sob pena de não mais votarem a aprovação de novos impostos. O rei aceitou a exigência e jurou a petição, mas tão logo os novos impostos foram votados e aprovados, o monarca dissolveu o Parlamento, enganando os deputados.

             O rei Carlos havia declarado guerra aos presbiterianos (calvinistas) escoceses, pois estava determinado a impor o anglicanismo na Escócia. Frustrado em duas tentativas, Carlos I foi obrigado a convocar o Parlamento para conseguir verbas para a guerra. Os parlamentares, liderados por Oliver Cromwell, recusaram-se a aprovar novos impostos e acusaram os conselheiros do rei de alta traição. Em 1641, a Irlanda católica revoltou-se contra a Inglaterra e o rei solicitou verbas para reprimir os irlandeses. Diante da negativa do parlamentares, o monarca invadiu o Parlamento e tentou prender seus líderes.

            Como resultado, iniciou-se uma guerra civil, a Revolução Puritana (1642-1649), que opôs os Cavaleiros (partidários do rei) e os cabeças-redondas (partidários do Parlamento). Com a vitória das forças parlamentares, o rei fugiu para a Escócia, onde foi aprisionado pelos presbiterianos e vendido ao parlamento inglês. Carlos I foi julgado por traição e executado em 30 de janeiro de 1649. Foi, então, proclamada a república, chamada de Commonwealth, e Oliver Cromwell assumiu o poder com o título de "Lorde Protetor da Inglaterra".

            Durante seu governo, Cromwell (quadro ao lado) lutou contra a Irlanda e a Escócia, além das perseguições internas. No caso irlandês, ordenou um massacre de católicos, confiscou as terras destes e entregou-as aos protestantes. Fez tudo isso acreditando que estaria “evitando novos derramamentos de sangue no futuro”. Entretanto, a chamada Questão da Irlanda, se arrastou até a atualidade. 

Especialmente no século XX, com a separação da Irlanda em 1921, formando a República da Irlanda e a articulação de um movimento armado antibritânico encabeçado pelo IRA (Irish Republican Army, o Exército Republicano Irlandês), cujo objetivo durante várias décadas foi a incorporação da Irlanda do Norte à República da Irlanda. 

Apesar de toda tensão gerada por ações militares e atentados às autoridades britânicas, a integração não ocorreu, mas em 1998 começou a ser traçado um plano de paz (Acordo de Belfast), ampliado em 2005, que implicava na deposição das armas por ambos os lados (IRA e milícias inglesas) para que fosse organizado um Parlamento na Irlanda do Norte, tendo representação de católicos e protestantes e dotado de ampla autonomia. Hoje o Sinn Féin (Partido Republicano Irlandês) é reconhecido como um grupo político legítimo e seu líder, Garry Adams, um dos principais articuladores do processo de paz pelo lado dos irlandeses.

            Sem dúvida, o fato mais marcante de seu governo foi a aprovação dos Atos de Navegação. Baixados por Cromwell em 1651, tais atos proibiam a participação de navios de estrangeiros como intermediários no comércio com a Inglaterra. A Holanda era responsável pela maior parte dos transportes marítimos na Europa e foi diretamente atingida pela medida. Para se ter um exemplo, Portugal utilizava navios construídos na Holanda, mas que eram considerados "estrangeiros" pela Inglaterra. Esse fato obrigou Portugal a utilizar exclusivamente navios ingleses no comércio entre os dois países.

            A guerra entre a Holanda e a Inglaterra durou três anos, ao fim dos quais a Holanda aceitou os Atos de Navegação, que permitiram a supremacia inglesa nos mares. A morte de Oliver Cromwell em 1658 foi recebida com alívio por toda a Inglaterra. Seu filho Ricardo não conseguiu manter o poder e foi obrigado a renunciar seis meses depois.

Carlos II, por John Wright, c. 1661, Coleção Real Windsor, Inglaterra
           

O Parlamento convidou Carlos II, filho herdeiro de Carlos I, a assumir o trono, o que ocorreu em 29 de agosto de 1660, pondo fim à Republica Inglesa. Em 1679, o Parlamento votou e aprovou o Ato de Exclusão, pelo qual os católicos ficavam proibidos de ocupar cargos públicos e de usar o Habeas Corpus, medida jurídica que garante ao indivíduo proteção legal contra as detenções arbitrárias. O rei reelaborou as leis de navegação e da frota inglesa, aumentando os rendimentos da coroa, e não mais convocou o Parlamento de 1682 a 1685.
File:James II by Peter Lely.jpg


            Em 1685, Jaime II (quadro ao lado) assumiu o trono, após a morte do monarca, que era seu irmão. Educado na França, o novo rei tentou reintroduzir o catolicismo no país, mas sua atitude não preocupou o Parlamento, devido à sua idade avançada e pelo fato de suas duas filhas estarem casadas com nobres protestantes. Mas, quando a segunda esposa do rei lhe deu um filho do sexo masculino (que excluiria suas irmãs da sucessão ao trono), batizado segundo o ritual católico, os parlamentares ficaram inquietos e procuraram Guilherme de Orange (Stathouder da Holanda, protestante e marido da filha mais velha de Jaime II) e pediram que ele invadisse a Inglaterra para defender o protestantismo.
File:King William III of England, (1650-1702) (lighter).jpg


            Guilherme de Orange (quadro ao lado) assumiu o poder na Inglaterra em 1688, enquanto seu sogro fugia do país. A transição sem derramamento de sangue ficou conhecida como Revolução Gloriosa. O Parlamento obrigou Guilherme III a assinar a Declaração de Direitos (Bill of Rights), na qual se comprometia a dar tratamento preferencial à Inglaterra e exercer o poder executivo, deixando o legislativo e a criação de impostos para o Parlamento. Nascia o parlamentarismo monárquico na Inglaterra: cujo poder estaria no Parlamento (exercido pelo primeiro-ministro como chefe de governo) e o rei seria o chefe de Estado (apenas representante da nação).


Esse fato afirmava o poder da burguesia inglesa sobre o rei, criando as condições necessárias para a Revolução Industrial. Em 1714, Jorge I herdou o trono inglês, iniciando uma nova dinastia, a dos Hannover – a mesma até os dias de hoje, só que com o nome Windsor, adotado por George V durante a Primeira Guerra Mundial, que tinha o interesse de externar um claro sentimento antigermânico.

File:King George V 1911 color-crop.jpg
Rei George V (1910-36), neto e sucessor da rainha Vitória (1837-1901)

A atual rainha, Elizabeth II, desempenha funções públicas de diferentes naturezas, representando a nação em cerimônias locais e internacionais, mas se consolida enquanto símbolo em diferentes eventos que ocorrem no cotidiano político, como por exemplo, a abertura do Ano Legislativo, que ocorre sempre na primavera (mês de maio) e com toda a pompa para reiterar a sua condição de "cabeça da Nação".

Veja o vídeo abaixo:




terça-feira, 9 de julho de 2013

Privacidade, Soberania e muita espionagem: o caso Snowden e o fim da liberdade

Se acreditávamos que o governo George W . Bush (2001-2009) foi severamente invasivo quanto à privacidade de seus cidadãos e possíveis suspeitos, com as revelações feitas pelo ex-agente da CIA Edward Snowden, descobrimos que o problema é muito maior, interferindo na privacidade de milhões de usuários dos EUA e fora deles, que tiveram dados (chats, e-mails, conversas em mensagens, conversas via net, jogos virtuais e tudo mais que for possível ) violados em prol da abençoada "segurança" e do combate ao terror.

Já é bizarro, ao se tratar de cidadãos comuns, mas pelo visto, a balbúrdia extrapolou as fronteiras da sociedade civil, atingindo governos e suas estruturas, como por exemplo, a União Europeia, a América Latina e outros.

Alias, a "retenção" forçada do presidente boliviano Evo Morales em Viena, devido ao fechamento do espaço aéreo europeu para a passagem do seu avião foi algo de profunda gravidade, pois já haviam pré-julgado que Morales estava trazendo Snowden em seu avião oficial, mas depois de verificarem seu erro mais que grosseiro, os países agressores (Portugal, Espanha, França e Itália) apenas mencionaram a ocorrência de um equívoco.

A postura de Obama, sempre revestida de um considerado nível de "bom mocismo", foi para a lama, já que a ideia do governo dos EUA (independentemente de quem estiver a sua frente) é adotar uma profunda e virulenta campanha de coleta de dados, tendo a conivência ou então "participação obrigatória" dos gigantes que controlam os caminhos da web. Isto inclui o mantenedor deste blog (Google), bem como todos os seus congêneres e concorrentes.

Nestas horas soturnas, só me ocorrem duas ideías: a primeira é naquela visão, quase surreal, de uma internet plenamente livre, sem regras e controles, dotando seus usuários de plena liberdade. Tal qual o fim dos Beatles em 1970, "o sonho acabou". A outra colocação, ou melhor dizendo, citação é a de George Orwell em seu primoroso texto "1984", que continua sendo atualíssimo para descrever o que temos vivido e sentido nestes tempos de virtualidade. O livro foi publicado em 1949, mas nos remete a uma situação muito próxima, por mais que naquele contexto, Orwell estivesse fazendo mais uma severa crítica aos horrores do regime stalinista, o paralelo com a atualidade é preciso por demais.

Segue abaixo, o trecho inicial do livro. Qualquer semelhança com o que vemos hoje, tenho certeza, é a mais pura realidade. E pelo visto, tempos difíceis nos esperam...

Boa leitura!

1984 - George Orwell (1903-1950)

CAPÍTULO I
         Era um dia frio e ensolarado de abril, E os relógios batiam treze horas.
Winston Smith, o queixo fincado no peito numa tentativa de fugir ao vento
impiedoso, esgueirou-se rápido pelas portas de vidro da Mansão Vitória; não porém
com rapidez suficiente para evitar que o acompanhasse uma onda de pó áspero.

         O saguão cheirava a repolho cozido e a capacho de trapos. Na parede do
fundo fora pregado um cartaz colorido, grande demais para exibição interna.
Representava apenas uma cara enorme, de mais de um metro de largura: o rosto de
um homem de uns quarenta e cinco anos, com espesso bigode preto e traços
rústicos mas atraentes. Winston encaminhou-se para a escada. Inútil experimentar o
elevador. 

Raramente funcionava, mesmo no tempo das vacas gordas, e agora a
eletricidade era desligada durante o dia. Fazia parte da campanha de economia,
preparatória da Semana do ódio. O apartamento ficava no sétimo andar e Winston,
que tinha trinta e nove anos e uma variz ulcerada acima do tornozelo direito, subiu
devagar, descansando várias vezes no caminho. Em cada patamar, diante da porta
do elevador, o cartaz da cara enorme o fitava da parede. Era uma dessas figuras
cujos olhos seguem a gente por toda parte. O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI, dizia
a legenda.

        Dentro do apartamento uma voz sonora lia uma lista de cifras relacionadas
com a produção de ferro gusa. A voz saía de uma placa metálica retangular
semelhante a um espelho fosco, embutido na parede direita. Winston torceu um
comutador e a voz diminuiu um pouco, embora as palavras ainda fossem audíveis.
O aparelho (chamava-se teletela) podia ter o volume reduzido, mas era impossível
desligá-lo de vez. Winston foi até a janela: uma figura miúda, frágil, a magreza do
corpo apenas realçada pelo macacão azul que era o uniforme do Partido. O cabelo
era muito louro, a face naturalmente sanguínea, e a pele arranhada pelo sabão
ordinário, as giletes sem corte e o inverno que mal terminara.

        Lá fora, mesmo através da vidraça fechada, o mundo parecia frio. Na rua,
pequenos rodamoinhos de vento levantavam em pequenas aspirais poeira e papéis
rasgados, e embora o sol brilhasse e o céu fosse dum azul berrante, parecia não
haver cor em coisa alguma, salvo nos cartazes pregados em toda parte. O bigodudo
olhava de cada canto. Havia um cartaz na casa defronte, O GRANDE IRMÃO ZELA
POR TI, dizia o letreiro, e os olhos escuros procuravam os de Winston. Ao nível da
rua outro cartaz, rasgado num canto, trapejava ao vento, ora cobrindo ora
descobrindo a palavra INGSOC.

        Na distância um helicóptero desceu beirando os telhados, pairou uns
momentos como uma varejeira e depois se afastou num vôo em curva. 
Era a Patrulha da Polícia, espiando pelas janelas do povo. Mas as patrulhas não tinham
importância. Só importava a Polícia do Pensamento.
       Por trás de Winston a voz da teletela ainda tagarelava a respeito do ferro
gusa e da superação do Nono Plano Trienal. 



terça-feira, 2 de julho de 2013

Monalisa e seus mistérios

Desde sua pintura há cinco séculos por Leonardo Da Vinci, o quadro da emblemática dama italiana domina o universo das teorias conspiratórias, em maior ou menor grau, envolvendo diferentes pesquisadores e curiosos sobre quais seriam as motivações ou "mistérios" relacionados à Gioconda.

Por exemplo, alguns pesquisadores levantam a hipótese da Monalisa ser uma representação do "lado feminino" de Leonardo, aludindo portanto, a uma afirmação de sua homossexualidade. Hipótese bastante questionável, porém, a imagem abaixo levanta várias dúvidas:


Uma sobreposição bastante intrigante

Um dos temas explorados, recentemente, é uma minúscula inscrição no interior dos olhos da Monalisa, conforme o texto abaixo (fonte BBC Brasil):

Um pesquisador italiano diz ter encontrado um código secreto incluído na pintura Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, que poderia ajudar a revelar a identidade da modelo retratada no quadro.

La Gioconda ou Monalisa, 1503-1506, por Leonardo da Vinci, Museu do Louvre, Paris.
Segundo Silvano Vinceti, presidente do Comitê Nacional para a Valorização de Bens Históricos, Culturais e Ambientas, o código estaria inscrito nos olhos da Mona Lisa, na forma de letras microscópicas, não visíveis a olho nu.
Ele diz ter identificado as iniciais LV, de Leonardo da Vinci, pintadas em preto sobre o marrom-esverdeado da pupila direita da Mona Lisa ou La Gioconda, como o quadro também é conhecido.
No olho direito, ele diz ter identificado as iniciais CE ou possivelmente a letra B. No fundo da pintura, estariam os números 72, ou L2 se invertidos.
Para Vinceti, essas inscrições seriam a chave para revelar a identidade da modelo da pintura.
“Examinamos a pintura em detalhe e pedimos a análise de pintores experientes, que confirmaram que é pouco provável que esses sinais tenham sido colocados lá por acaso”, diz ele.
Várias teorias já foram aventadas sobre a identidade da Mona Lisa, incluindo a de que ela seria um autorretrato do pintor.
Um estudo da Universidade de Hidelberg, em 2005, identificou-a como Lisa Gherardini, mulher do rico mercador florentino Francesco del Giocondo.
Em janeiro, o próprio Silvano Vinceti havia pedido a exumação dos supostos restos de Da Vinci, enterrados no Castelo de Amboise, no Vale do Loire, na França, para tentar comprovar a tese de que a pintura era um autorretrato.
O pesquisador italiano pretende revelar a identidade da Mona Lisa em um livro, Il Segreto degli occhi della Gioconda (O segredo dos olhos de La Gioconda), cujo lançamento deve ocorrer no mês que vem.
Vinceti é conhecido na Itália por seu envolvimento em teses polêmicas relacionadas aos grandes mestres da arte clássica. Neste ano, ele também anunciou ter identificado os restos perdidos do pintor Caravaggio.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Brasil em agitação: o próximo desafio é a Jornada Mundial da Juventude

Passada a Copa das Confederações, o título obtido pelo Brasil e as manifestações dentro e fora do campo, o turbilhão social que estamos passando talvez esteja longe de se concluir, pois há uma agenda grande para ser posta em prática e o próximo alvo envolve o elemento religioso: a derrubada no Congresso do infame projeto da chamada "cura gay", que na concepção de seus autores busca combater o preconceito.

Algo que é no mínimo, bizarro, mas como diz a sabedoria popular "cada cabeça, uma sentença", mas agora, uma visão minoritária e excludente de um certo segmento político que, diz defender os interesses do povo, não pode usar as instâncias representativas para defender seus próprios interesses e nesse caso, Marcos Feliciano e seus seguidores estão na contramão da História.

A impopularidade da medida é um fator importante e espera-se que o Congresso Nacional tente, ao menos, evitar um tremendo retrocesso no que diz respeito à defesa da tolerância e diversidade que a até então Comissão de Defesa dos Direitos Humanos teve o papel de protagonizar, mas desde a ascensão do seu "atual presidente", a humanidade ali foi para o ralo! Se o sr. Feliciano quer pregar no púlpito de sua igreja aquilo que sua "fé" aponta é um direito dele, mas não na tribuna do Congresso, onde o espaço é de todos, sem diferenças de credo ou condição sexual e social.

A laicidade do nosso Estado deve prevalecer, pois dela virá justamente, o direito igual para que todos possam, de acordo com seus desejos, exercer ou não, a fé como acharem conveniente.


Fonte: Portal iG - by STEFANO RELLANDINI/REUTERS/Newscom

Ainda no universo cristão, temos o simpático papa Francisco, que estará em visita ao país durante a Jornada Mundial da Juventude, entre 22 e 28 de julho, no Rio de Janeiro. Com um discurso que buscou assinalar a humildade e o diálogo, traz consigo a sustentação de posições duras sobre o tema do aborto e o casamento entre homossexuais, mas no caso do primeiro tema a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) distribuirá uma cartilha que coloca a pílula anticoncepcional e o DIU (dispositivo intrauterino) como métodos "abortivos".


Foto da cartilha, distribuída em vários países (Portugal, Espanha e França)

É reconhecível a posição da Igreja sobre o tema, já que se coloca a favor da vida e família, porém, não se coloca em discussão a miopia e silêncio sobre a importância de um planejamento familiar na sociedade e o uso pleno livre arbítrio sobre como e quando será a constituição de uma família por um casal.

Qual é a condição que uma família de baixa condição pode dar aos seus numerosos filhos com o atual modelo de vida e de Estado que temos? Em Gênesis 1,28 está escrito: "Crescei e multiplicai-vos", mas cabe a pergunta: e o alimento, a casa, educação, saúde e tudo mais necessário para uma vida digna virá da onde?
Por mais que as pessoas busquem o trabalho, nem todos tem sucesso e êxito! Olhemos por baixo das pontes e viadutos ou então pelas periferias, entre casebres e palafitas...

Planejamento familiar é bem diferente de aborto em larga escala, feito ao bel-prazer e conveniência de cada um, mas isso não resolverá o problema de pocilgas infectas que praticam clandestinamente o aborto para os mais pobres ou ainda as clínicas de "boa referência e discrição" que praticam o mesmo para quem pode pagar os elevados valores pelo serviço.

Há um erro de foco e leitura que a Igreja Católica e muitos outros segmentos cristãos ainda não perceberam , pois numa sociedade tão desigual e competitiva como a nossa, tem se tornado cada vez mais difícil, educar e sustentar as pessoas com a mínima dignidade e como ficaria numa escalada de crescimento populacional? Outra bizarria é a orientação para que uma mulher, mesmo vítima de estupro, tenha o filho, sendo que pela legislação atual, é permitido o aborto. Há um descompasso grave, pois a vida do feto é posta acima da mãe humilhada e violentada e que não queria uma gravidez oriunda destas circunstâncias.

Infelizmente, não é possível influenciar que as pessoas "coloquem filhos no mundo" e não se preocupem, pois afinal, Deus proverá...