As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

domingo, 24 de agosto de 2014

24 de agosto de 1954: O suicídio de Getúlio Vargas


"Retrato do Velho"

Bota o retrato do velhinho outra vez
Bota no mesmo lugar
O sorriso do velhinho
Faz a gente se animar, oi.
Eu já botei o meu
E tu não  vai botar?
Já enfeitei o meu
E tu vais enfeitar?
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar

 (Retrato do Velho, de Marino Pinto e Haroldo Lobo) 

Acima, temos o gingle que marcou a campanha política para o retorno de Getúlio à Presidência da República: com a ascensão de Vargas ao poder em 1951, reconduzido à presidência “nos braços do povo” através da chancela das urnas, instalou-se uma política nacionalista, com o estabelecimento do monopólio estatal sobre a extração e o refino do petróleo, expresso na criação da PETROBRAS e coroando uma imensa campanha conhecida como "O Petróleo é Nosso". Houve também a expansão da Companhia Siderúrgica de Volta Redonda mas, em contrapartida, Vargas teve também de enfrentar uma inflação  crescente e um Congresso e imprensa contrários à sua prática política. Seu ministro do Trabalho, o trabalhista João Goulart, amedrontava a burguesia conservadora que temia uma guinada de Vargas à esquerda e a implantação  de uma republica sindicalista, tal como fizera na Argentina o ditador Juan Domingo Perón.

Getúlio em seu gabinete no Palácio do Catete

Discurso de GV em 1o de Maio de 1951

Dessa forma, o segundo governo Vargas foi pontilhado de manifestações contrárias a ele, um verdadeiro cerco da imprensa, manifestos dos militares que julgavam estar ocorrendo uma marginalização das Forças Armadas e agitações populares. O anúncio de que o salário mínimo seria elevado em 100% apenas acirrou os ânimos.

A campanha do "Petróleo é nosso" e a PETROBRAS em 1953


No auge das manifestações, ocorreu o “atentado da Rua Toneleros”, onde Carlos Lacerda, membro da UDN e proprietário do jornal A Tribuna da Imprensa, foi ferido a tiros e o major da Aeronáutica Ruben Tolentino Vaz , responsável pela escolta de Lacerda, perdeu a vida.
Os opositores culparam Getúlio, que declarou inocência, comprometendo-se a investigar o fato. A Força Aérea decidiu averiguar o caso por conta própria, chegando até o nome de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente. A partir daí, as investigações referiam-se ao ambiente do governo descrevendo-o como “mar de lama”.

Atrás de Getúlio, o chefe de sua guarda pessoal: Gregório Fortunato.


As pressões para que Getúlio deixasse o poder cresciam de todos os lados: UDN, Forças Armadas, e até mesmo o vice Café Filho sugeriu que ambos renunciassem. Na noite de 23 de agosto de 1954, em uma reunião ministerial, Vargas comprometeu-se a tirar uma licença e deixar o Executivo. Mas, na madrugada de 24 de agosto, Getúlio cometeu suicídio com um tiro no peito, depois de redigir uma inflamada carta-testamento.

Máscara mortuária de Getúlio Vargas

Arma de Vargas usada no suicídio

A UDN percebeu, então, que havia perdido sua ultima chance de chegar ao poder e decidiu dar um golpe de Estado para evitar a posse do candidato eleito, Juscelino Kubitschek, com o pretexto de que ele não conseguira maioria absoluta dos votos. Café Filho afastou-se do poder alegando motivos de saúde, sendo substituído pelo presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz.

Carlos Lacerda

A articulação de um golpe era comentada em todos os círculos e já dado como certo por muitos, quando o ministro da Guerra, Marechal Henrique Teixeira Lott, decidiu dar um "golpe preventivo": as tropas do Exército ocuparam os edifícios governamentais, estações de rádio e jornais. Em virtude da posição negativa dos ministros da Marinha e Aeronáutica às ações de Lott , as tropas do Exército cercaram as bases aéreas e navais.

Café Filho, quem deveria terminar o mandato de Getúlio.

Marechal Lott: ministro da Guerra responsável pelo "golpe preventivo"



Os parlamentares decidiram pelo afastamento do presidente em exercício Carlos Luz e colocaram em seu lugar o presidente do Senado, Nereu Ramos. O País foi mantido em estado de sítio por trinta dias, prorrogado por igual período. A posse de JK ocorreu em 31 de janeiro de 1956 e assim, o Brasil retornava ao Estado de Direito.

Carlos Luz: presidente da Câmara dos deputados impedido de tomar posse por Lott

Nereu Ramos: presidente interino pelo "golpe preventivo" de Lott, responsável pela transição do cargo para JK.

Juscelino Kubitschek : restauração do Estado de Direito.

24 de agosto de 1572: o massacre da noite de São Bartolomeu

O ano é 1572. Carlos IX tem 22 anos, e seu reinado era conturbado devido aos conflitos que opunham católicos e protestantes. A conjuração de Amboise precedeu, um pouco, sua coroação, em 1560.Os grandes do reino (Alta Nobreza), como os Montmorency, os Guise e os Bourbon, disputavam o poder sob o pretexto da religião e em nome de um jovem monarca que pretendiam derrubar. Catarina de Médici, a rainha-mãe, jogava uns contra os outros para garantir a herança de Henrique II e lograr um modus vivendi entre as duas facções. Apesar da derrota imposta pelo duque de Anjou, irmão de Carlos IX, nas batalhas de Jarnac e de Moncontour, os calvinistas conseguiram recompor suas forças. Tendo por capital La Rochelle ( no sudoeste da França), chamada de a "Jerusalém Marítima", eles formaram um "estado dentro do estado", sob a autoridade do almirante Gaspard de Coligny, da rainha de Navarra, Joana d'Albret, e de seu filho Henrique (futuro Henrique IV). Eles tinham agentes diplomáticos, exército, armada, finanças e, como aliados, a rainha Elizabeth I da Inglaterra e seus correligionários de Londres.

Eram uma ameaça crescente à autoridade real, ou o que restava dela. Mas a rainha-mãe, cujo otimismo não ficava aquém de sua tenacidade, não se desesperava. Ela decidiu dar sua filha Margot como esposa ao príncipe huguenote Henrique de Navarra. Acreditava piamente que esse casamento teria a condição de reconciliar os franceses. Ela pretendia também conseguir a conversão do futuro genro e, com isso, enfraquecer o partido calvinista, mas se chocava com a intransigência de Joana d'Albret. Para abrandar a rainha de Navarra e tirá-la do prumo, ela necessita do apoio de Coligny. É com essa perspectiva que convocou o almirante a comparecer à Corte.

Carlos IX venerava a mãe - um pouco demais, talvez -, mas suporta cada vez menos governar à sua sombra, e ainda ser um rei de fachada e ver seus feitos e gestos incessantemente controlados e suas iniciativas contrariadas. Além disso, ele sofria por não ser o filho predileto. Catarina idolatrava o duque de Anjou, a quem chamam "Monsieur". Ela assegurou sua fortuna e sua glória, sob pretextos falaciosos e em detrimento de Carlos, o filho mais velho, que se viu obrigado a conceder ao irmão o título de intendente geral do reino com poderes exorbitantes. Carlos tinha fibra militar. Ele sonhava imitar seu avô Francisco I (1515-1547) e superar seu pai Henrique II (1547-59).

Era precisamente esse filão que o almirante iria explorar. Catarina assumiu um grande risco ao chamá-lo à Corte, porque, entrando no jogo, ele apostava no jovem rei. Escutava-o com atenção respeitosa, inflava sua ambição, atiçava seu ódio contra Filipe II da Espanha - assim, ganhava sua simpatia. Carlos sente prazer em conversar com esse homem maduro. Não partilhava de sua fé, mas admirava sua coragem. O almirante o aconselhava a governar sozinho, já que ele tinha o poder, a idade e as capacidades para desafiar a rainha-mãe e sua roda excessivamente italiana, e, sobretudo, o irmão que, campeão do catolicismo, estava mais a serviço de Filipe II do que da França. 

Coligny lhe repetia que ele tinha o estofo de um grande rei, de um conquistador, e que lhe bastava querer. Essas palavras foram um bálsamo para o coração ulcerado de Carlos, que passava a nutrir um sentimento quase filial pelo almirante, a quem chama de "meu pai", certo de ter encontrado nele a figura paterna que perdera muito jovem, o conselheiro que tão penosamente lhe faltara. Quando admitia entre seus familiares os auxiliares do almirante, Briquemault, Rohan, Téligny, La Rochefoucauld, os cortesãos começavam a se agitar, cogitando se não estaria disposto a abjurar a religião romana.


O Plano abandonado 

O almirante teceu pacientemente a sua teia, vislumbrando que logo teria influência para levar Carlos IX a apoiar os rebeldes flamengos contra Filipe II, com o risco de provocar uma guerra com a Espanha. Uma ocasião logo se apresentava. Em abril, um vasto movimento de revolta incendiou a província de Zelândia nos Países Baixos. Os rebeldes imploravam a ajuda da França e da Inglaterra. Coligny convenceu o rei a autorizar Ludovico de Nassau a montar uma tropa. Carlos doou-lhe dez mil francos. Em 29 de maio, Nassau tomava Mons e Valenciennes.


Entretanto, o marechal de Tavannes e o duque de Longueville, ambos militares experientes, entravam na disputa. Eles declaravam a Carlos que com a ajuda aos rebeldes flamengos ele expunha seu reino a um perigo maior. A França era incapaz de sustentar uma guerra que poderia se prolongar por muitos anos. Sua economia estava enfraquecida, seu exército reduzido e dividido. O rei estava confuso, ainda mais que duvida da lealdade do Duque de Anjou, em caso de conflito.

A rainha-mãe o resgatava da perplexidade. Ela representava uma de suas grandes cenas, cujo segredo domina. Em lágrimas, censurava-lhe a ingratidão e a imprudência: se perdesse a guerra, seu reino seria no mínimo desmembrado e submetido por muito tempo à Espanha; se ganhasse, ficaria a reboque dos huguenotes. Ela ameaçava abandonar os negócios reais e se retiraria para Florença se ele persistisse no projeto. Mas Coligny introduziu um novo argumento: a guerra estrangeira era o único meio de reconciliar os franceses. 

Se Carlos IX alcançasse a vitória, ele anexaria Flandres e seria reconhecido como o maior soberano da Europa. Nas sessões de 16 e 26 de junho, o Conselho do Rei examinava a questão e rejeitou o projeto do almirante. Rejeição foi confirmada no dia seguinte por um conselho puramente militar. Coligny não desistiu: "Senhor, como o conselho destas pessoas persuadiu Vossa Majestade, não posso mais me opor a vossa vontade, mas estou seguro de que vós vos arrependereis".


A 12 de julho, Carlos IX permitiu que um contingente expedicionário partisse da França para socorrer os rebeldes sitiados em Mons. Foi simplesmente esmagado pela tropa espanhola. Nos dias 9 e 10 de agosto, durante uma reunião do Conselho, o plano de guerra foi definitivamente abandonado. Coligny declara: "O rei se recusa a empreender essa guerra. Queira Deus que não lhe aconteça outra da qual não estará em seu poder omitir-se". Palavras desastradas, ameaçadoras até, que não impediram Catarina de partir para Monceaux, para junto da cabeceira de sua filha, a duquesa da Lorena. Ela considerava o caso encerrado. Ademais, o almirante se comprometera a não fazer nada sem preveni-la. Nessa falsa segurança, ela pode, no ócio, ocupar-se dos preparativos para o casamento "misto". O almirante, porém, trai seu juramento. Estimulou Carlos IX, dizendo-lhe que é livre para seguir ou não o voto de seus conselheiros. O rei quer a guerra, mas se recusa a ser empurrado: ele escolheria o seu momento.

Quando a rainha-mãe retorna a Paris, constatava que o rei prosseguia nos preparativos de guerra e que um contingente de arcabuzeiros estava a caminho da Picardia. Então, seu filho ingrato a enganou mais uma vez, cedendo às pressões de seu grande amigo. Razão a mais para acabar com o sujeito. Ela entrou em contato com Ana d'Este, duquesa de Nemours, viúva de Francisco de Guise, que fora assassinado em 1563. O jovem duque Henrique de Guise tinha jurado vingança pela morte de seu pai e responsabiliza Coligny. Catarina avisava que o rapaz tinha carta branca para agir e ele, mesmo contra a vontade da mãe, aceitou. Agora as coisas andam depressa. O duque de Anjou encontrou o duque de Guise. Juntos eles fixaram a data, a hora e o lugar da execução. Eles escolheram o matador, um certo Maurevert, atirador de elite.



Cena do casamento no filme "Rainha Margot" -Dir.: Patrice Chéreau, França, Alemanha, Itália. 1994


O casamento de Henrique de Navarra com Margot se desenrolou sem incidentes, apesar da hostilidade dos parisienses. "Monsieur" e sua mãe aplacaram as desconfianças dos senhores huguenotes, que compareceram para homenagear Henrique de Navarra. Alguns partiram antes do fim das festividades. O almirante permaneceu. O rei lhe prometera resposta sobre a declaração de guerra, em quatro dias. As advertências, porém, se multiplicavam. Havia rumores sinistros, mas além da coragem, Coligny tinha guarda pessoal.

Na sexta-feira 22 de agosto, ele se apresentava no Louvre. O conselho, presidido pelo Duque de Anjou na ausência do rei, terminou às 10 horas. Ao sair do palácio, Coligny encontrou o rei, que ía para o seu jogo de péla. Depois se retirou e enveredou pela rua da Poulies: era o caminho mais curto para chegar a sua casa, na rua de Béthisy. Uma guarda de 15 cavalheiros o escoltava. Ele lia uma petição, sempre mascando seu palito. Maurevert estava de tocaia atrás de uma janelinha. Estouravam dois tiros. Naquele instante o almirante se abaixava para amarrar um de seus sapatos. Uma bala estraçalhava-lhe um dedo; a segunda se incrustava em seu braço. Ele exclamou: "Vede como são tratadas as pessoas de bem na França!". Ele foi levado até a rua de Béthisy e Ambroise Paré, o célebre cirurgião, foi convocado às pressas. Avisado, Carlos IX, furioso, voltou para o palácio. Tomou imediatamente três medidas provando que ignorava tudo sobre o complô: a abertura imediata de um inquérito, a evacuação das casas vizinhas à residência de Coligny, a interdição do porte de armas nas ruas de Paris.


Para a rainha-mãe e o duque de Anjou, o fracasso do atentado foi uma catástrofe. Eles jamais tinham imaginado que Maurevert pudesse falhar. O rei decidiu, um pouco mais tarde, fazer uma visita a Coligny. Catarina recuperou então o sangue frio e o gênio. Ela propôs que toda a Corte acompanhasse o rei, a fim de homenagear o ilustre ferido. Está certa de que os Guise se absteriam, convidando assim a vingança dos huguenotes, mas essa comédia não alcançou o resultado esperado. Ao contrário, redobrou as desconfianças dos huguenotes. A velha soberana estava enrascada. O inquérito determinado pelo rei levaria direto a Henrique de Guise e, deste, ao duque de Anjou e sua mãe.


Na rua de Béthisy a agitação estava no auge. Uns falavam em degolar os Guise. Outros pressionavam o almirante para deixar imediatamente a capital. Ele se recusava. O rei prometera-lhe justiça e merecia toda sua confiança. Rejeitava, porém a oferta que Carlos lhe fez para se hospedar no Louvre ou no castelo de Vincennes, ao sul de Paris. Pouco depois, Henrique de Navarra e o príncipe de Condé se apresentavam ao rei. Eles exigiam o total esclarecimento do atentado e uma punição severa. O soberano respondeu que o inquérito estava em curso. Ele reiterou a ordem de reagrupamento dos senhores huguenotes da rua de Béthisy para garantir a segurança do ferido e ofereceu aos dois príncipes a sua suíte pessoal no palácio. O rei escreveu aos governadores de suas províncias para lhes informar do infame atentado que vitimou Coligny e imputava, com certa precipitação, a responsabilidade ao duque de Guise.


A Noite interminável



Pintura de François Dubois c.1572-1584, Cantonal Museum, Lausanne, Suíça.


Encerrada em seu quarto, a rainha-mãe estava sobre o fio da navalha. Ela temia a cólera de seu filho, quando ele soubesse da verdade. Ele era bem capaz de apunhalar o irmão. Ela não temia menos a vingança dos huguenotes. A noite interminável transcorreu nessa angústia. Na manhã de 23 de agosto, o rei recebeu um enviado de Coligny. Este lhe pediu a guarda prometida para vigiar a rua de Béthisy. O rei concedeu. 

O duque de Anjou, que assistia à audiência, designou o capitão Casseins, fiel seguidor dos Guise. A chegada de Casseins e de 50 homens reacendeu a ira e a inquietude dos huguenotes. Seguiram-se discussões acaloradas das quais participavam dois "espiões", Bouchavannes e Gramont. Estes correram ao Louvre para informar a rainha-mãe de um complô que se preparava: no dia 26 de agosto, 4.000 huguenotes se reuniriam no bairro de Saint Germain, sob as ordens de Montgomery, atacariam o Louvre, degolariam a família real e proclamariam como rei da França, Henrique de Navarra.

A rainha-mãe cedeu ao terror e ficou transtornada. Ela se recordava da conjuração de Amboise, mas naquele caso os conjurados queriam somente capturar o rei para exercer o poder em seu nome. O que eles queriam agora era suprimi-lo, ele e todos os seus. Mas ela percebe, subitamente, que esse complô, apesar do perigo que representava, a tiraria dos apuros.


Ela foi passear no jardim das Tulherias com duque de Anjou. Ela chamava seus leais servidores, Tavannes, Rirague, o conde de Retz e o duque de Nevers, aos quais apresentou um plano: decapitar o partido huguenote suprimindo Coligny e uma dúzia de seus auxiliares. Nenhum deles fez objeções. Discutiu-se apenas a lista dos condenados. Catarina disse que lamentava chegar a esse extremo. Portanto, a decisão de princípio estava tomada. Restava fazer o mais difícil: para torná-la exequível, era preciso obter a ordem de Carlos, único detentor da autoridade.



Carlos IX de Valois, pintura de François Cluoet, c. 1565


Carlos IX se preocupava com a manutenção da ordem na capital. Ele enviou Anjou para sondar a opinião pública. Missão delicada que este último aceitou com alguma apreensão, mas logo se tranquilizou. Tão logo reconheceram o vencedor de Jarnac e Moncontour, os parisienses o aclamavam. Anjou percebeu que os Guise simularam uma falsa partida e que tratavam de agrupar seus partidários. De volta ao Louvre, ele declarou que está tudo calmo e que os huguenotes se alarmam à toa.

Nas horas seguintes, a tensão não parava de crescer. Durante a ceia da rainha-mãe, os senhores huguenotes faziam declarações ameaçadoras. O senhor de Pardaillan se permitiu dizer: "Se o almirante perder um braço, milhares de outros se levantarão para fazer tamanho massacre que os rios do reino se encherão de sangue!" Catarina não vacilou. Os que ouviram a provocação de Pardaillan poderiam negar a existência de um complô?


Enquanto isso, Carlos IX, novamente alertado pela roda de Coligny, reforçava as medidas de proteção. Ele convocou Le Charron, preboste (governador da cidade de Paris) em exercício desde 16 de agosto, e ordenou que se fechasse as portas, multiplicasse as patrulhas, tirasse os navios do lado da cidade. Mas o preboste que saíra, Claude Marcel, era o verdadeiro dono de Paris. O rei, sem se dar conta, acabava de fornecer aos chacinadores os meios de perpetrarem seus crimes.


Chegava o momento de lhe abrir os olhos. A rainha-mãe temia esse confronto. Gondi cuidaria disso. Ele sabia como falar ao rei numa circunstância tão grave e lhe revelava que o duque de Guise não é o único responsável pelo atentado, mas que sua mãe e o duque de Anjou eram cúmplices, para evitar os perigos a que submeteria o reino ao intervir nos Países Baixos. Mais: contou o objetivo secreto do almirante - manietar o rei e "huguenotizar" todo o reino. Depois do atentado frustrado, seus partidários clamavam vingança, conspiravam contra ele. Todos eram culpados de lesa-majestade. Algumas execuções, disse, desmantelarão o complô.



A rainha-mãe Catarina de Medici

O rei protestou com veemência. Não quis acreditar na traição de Coligny, mas titubeou, duvidou. Gondi sentiu que a partida estava quase ganha. Aí entrou em cena a rainha-mãe, Anjou, seus aliados. Um a um eles assediaram o infeliz monarca durante duas horas! Sua resistência enfraqueceu. A rainha-mãe desferiu o golpe final. Ele estaria com medo dos huguenotes? Seria menos corajoso do que seu irmão fora em Jarnac e em Moncontour? Acusado de covardia pela própria mãe, ele soltou um uivo de fera: "Vós o quereis! Pois bem! Matai! Matai todos!".



E desaba, exausto. A rainha-mãe e seus acólitos levantaram-se em silêncio, para executar a ordem real. Completaram a lista de vítimas, convocaram os Guise e os encarregaram de suprimir Coligny. Fora um dos huguenotes hospedados no Louvre, eles não imaginaram nenhum massacre geral. No entanto, convocaram Claude Marcel, cujo fanatismo é conhecido. Eles o recordavam de que estava incumbido de manter seus homens em estado de alerta para apoiar, em caso de desordem, as tropas reais e a milícia burguesa. Seus quaterniers (chefes de bairro) receberam a missão de agir de forma que nenhum "desses ímpios" pudesse escapar. Ele já tinha mandado levantar a lista das casas huguenotes. Claude Marcel tinha responsabilidade esmagadora na organização do massacre.


Selvageria: Caçados como animais

Carlos IX recobrou a calma e entra no papel que dele se espera. Como seu pai, ele era lento para decidir, mas uma vez convencido ía até o fim. Ele se comportava como um rei que, em perigo extremo, garantia, custe o que custar, a segurança do seu reino. Exigiu de sua guarda um juramento estrito de obediência e deixou partir La Rochefoucauld, um de seus companheiros prediletos, sabendo que o está enviando para a morte...

Ao raiar do dia 24 de agosto, o rei convocou Henrique de Navarra e Condé, ambos príncipes de sangue, e os intimou a escolher entre a abjuração e a morte. Do lado de fora, os cavalheiros de seus séquitos foram desarmados e massacrados. Os que tentaram escapar foram caçados como animais. Nos pátios do palácio, abatia-se tudo que fosse suspeito de ser huguenote. Soaram os sinos em Saint-Germain l'Auxerrois. 

Os sinos graves de Notre Dame e de todos os relógios de Paris respondem. O sinal estava dado. Rua de Béthisy, os acólitos do duque de Guise acabavam de assassinar o almirante e de jogar seu corpo pela janela. Em todos os bairros da cidade, desencadeiou-se  a infame carnificina que durou até 30 de agosto! 

No dia 26, quando Carlos IX se dirigiu ao Parlamento para uma sessão solene, foi é aclamado pelos parisienses. Essa súbita popularidade o conforta em sua ilusão de ser, enfim, o monarca que sonhava ser, todo-poderoso e venerado pelos súditos. Em discurso, oficializou a tese do complô para justificar a execução de Coligny e de seus subalternos. Depois, cumprindo os desejos da rainha-mãe e de Anjou, acrescentou: "Tudo o que se passou em Paris foi feito, não só por meu consentimento, mas por minha ordem e de meu próprio movimento."

Medalha cunhada a mando do papa Gregório XIII para "comemorar" o massacre dos Huguenotes.


São palavras que a posteridade conservou, mas permanece a questão de saber se ele foi responsável ou culpado pelo massacre de São Bartolomeu. Os fatos aqui relatados trazem a resposta. Responsável, Carlos IX é totalmente pois, enquanto soberano, ele deu a ordem fatal. Culpado também é, pois permitira o massacre dos huguenotes hospedados em seu palácio. Mas ele não seria, com certeza, pelo massacre coletivo perpetrado na capital por Marcel e os Guise. O infeliz foi sobretudo vítima das intrigas de seu círculo e do disparate de Coligny. Em 1572, restavam-lhe somente dois anos de vida. Não foi o remorso que o matou, mas a tuberculose. Ele começava a escarrar sangue.

Sugestão do Gabinete:

"A Rainha Margot" Direção: Patrice Chéreau. 1994, 159 min.




França, século XVI. Um casamento de conveniência é celebrado com o intuito de manter a paz. A união entre a princesa católica Marguerite de Valois (Isabelle Adjani), e o príncipe protestante Henri de Navarre (Daniel Auteuil) tinha como meta reconciliar duas vertentes cristãs(catolicismo defendido pelos Valois e o calvinismo pelos huguenotes). 
As intrigas palacianas vão culminar com a Noite de São Bartolomeu, na qual milhares de protestantes e católicos foram mortos em 24 de agosto de 1572. 










quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A Primeira Guerra Mundial em imagens e textos.

Brasão do Império Austro-Húngaro: o escudo austríaco na esquerda e o húngaro na direita, unidos pela divisa em latim "Indivisível e Inseparável". 

Brasão do II Reich (1870-1918)

Brasão do Império Russo - Dinastia Romanov (1616-1917)

Brasão do Império Britânico

Brasão da República Francesa

A declaração de guerra do Império Alemão.


"Agosto 1914" - Isaac Rosenberg (1890-1918)

Fogo. E o que entra em combustão
Em nossas vidas? O amado
Celeiro do coração?
Tudo o que será lembrado?

Tem três vidas uma vida -
Ferro, mel e ouro. Do trio
Idos o mel e o ouro, fica
Apenas o duro e frio.

De ferro são nossas vidas
A fundir-se na nascente.
No campo abre-se a ferida,
Na boca quebra-se um dente.

"Nada de novo no front" Erich Maria Remarque (1928)

Kantorek foi nosso professor na escola, um homem pequeno, severo, de paletó cinza de abas, com um rosto afilado de camundongo. Tinha, aproximadamente, a mesma estatura que o cabo Himmelstoss, o Terror de Klosterberg. Aliás, é engraçado como o infortúnio do mundo provém tão freqüentemente de homens baixos: são muito mais enérgicos, de gênio muito pior do que os indivíduos altos. Tentei sempre evitar pertencer a companhias lideradas por comandantes pequenos: em geral são uns carrascos.
Kantorek nos leu tantos discursos nas aulas de ginástica que a nossa turma inteira se dirigiu, sob o seu comando, ao destacamento do bairro e alistou-se. Vejo-o ainda à minha frente, e lembro-me de como o seu olhar cintilava através dos óculos, quando, com a voz embargada, perguntava:

Vocês vão todos, não é, companheiros?

Esses educadores têm sempre os seus sentimentos prontos, na ponta da língua, e os ficam espalhando a todo instante, sob a forma de lições. Mas, naquela época, ainda não nos preocupávamos com isto.
É verdade que um de nós vacilou e não quis acompanhar os demais. Foi Josef Behm, um rapaz gordo e calmo. Finalmente, deixou-se convencer, pois do contrário as coisas teriam ficado impossíveis para ele. Talvez houvesse outros que pensavam como ele, mas não ousaram proceder de outra forma, pois, naquela época, até os nossos próprios pais usavam facilmente a palavra “covarde”. As pessoas não tinham nenhuma idéia do que estava para vir. Os mais sensatos eram realmente os pobres, os simples: viram logo que a guerra era uma desgraça, enquanto as classes mais altas não se continham de alegria, embora fossem elas justamente que deveriam ter previsto mais depressa as suas conseqüências.

Katczinsky insiste que isto é próprio da educação o excesso de estudo torna os homens burros. E, se Kat o afirma, é porque pensou muito antes de fazê- lo.

Estranhamente, Behm foi um dos primeiros a morrer. Durante um dos ataques foi atingido nos olhos por uma bala. Imaginando-o morto, nós o abandonamos no campo. Não pudemos trazê-lo de volta, tão precipitada foi nossa retirada. À tarde, repentinamente, nós o ouvimos chamar e vimos que tentava arrastar-se até as nossas trincheiras. Perdera, apenas, os sentidos. Por não conseguir ver e por estar louco de dor, não procurava cobertura, e por isso foi baleado antes que um dos nossos pudesse ir buscá-lo.
É claro que não se pode responsabilizar Kantorek por tudo isto; que seria do mundo se a isto se chamasse culpa? Houve milhares de Kantoreks, todos convencidos de que procediam da melhor forma e de maneira cômoda para eles.

Mas, aos nossos olhos, foi justamente por isso que sua missão fracassou.

Os professores deveriam ter sido para nós os intermediários, os guias para o mundo da maturidade, para o mundo do trabalho, do dever, da cultura e do progresso e para o futuro. Às vezes, zombávamos deles e lhes pregávamos peças, mas, no fundo, acreditávamos neles. À idéia de autoridade da qual eram os portadores, juntou-se em nossos pensamentos uma melhor compreensão e uma sabedoria mais humana. Mas o primeiro morto que vimos destruiu esta convicção. Tivemos que reconhecer que a nossa geração era mais honesta do que a deles; só nos venciam no palavrório e na habilidade. O primeiro bombardeio nos mostrou nosso erro, e debaixo dele ruiu toda a concepção do mundo que nos tinham ensinado. 

"Epitáfio de um combatente da Primeira Guerra Mundial" Rudyard Kipling 1914

"Se alguém perguntar por que morremos,
diga-lhe, porque nossos pais mentiram."


Sugestão do Gabinete: "Joyeux Noël" (Feliz Natal) Direção: Christian Carion, 2005, 116 min.


Natal de 1914, em plena 1ª Guerra Mundial. A neve e presentes da família e do exército ocupam as trincheiras francesas, escocesas e alemãs, envolvidas no conflito. Durante a noite os soldados saem de suas trincheiras e deixam seus rifles de lado, para apertar as mãos do inimigo e confraternizar o Natal. É o suficiente para mudar a vida de um padre anglicano, um tenente francês, um grande tenor alemão e sua companheira, uma soprano.




domingo, 3 de agosto de 2014

Revolução de 1924: da "revolução esquecida" à crise que levaria ao movimento de 1930

A participação brasileira na Primeira Guerra Mundial (1914-18), embora pequena, pois inicialmente o Brasil declarou-se neutro, mas em 1917, o governo de Venceslau Brás (1914-18) declarou guerra ao Império Alemão em virtude do afundamento de 2 navios mercantes brasileiros (o Tijuca em 22/05/1917 e o Paraná em 25/10/1917), demonstrou o atraso da tecnologia militar brasileira frente às novas armas utilizadas no conflito. 
Venceslau Brás


Com o fim da guerra, chegou ao País uma missão militar francesa incumbida de instruir a oficialidade brasileira quanto ao manejo das armas modernas. Os alunos da missão francesa eram os jovens oficiais do Exército que, entre outras coisas, acabaram influenciados pelas ideias positivistas e passaram a defender a participação dos militares na política, como forma de impor a moralização dos costumes. Estes foram os personagens que ficariam conhecidos como tenentes, e já davam seus primeiros passos como movimento durante o governo de Epitácio Pessoa (1918-1922).

Epitácio Pessoa

O Tenentismo é comumente definido como uma reação da jovem oficialidade, representante das camadas médias urbanas que estavam marginalizadas da política desde a época da proclamação da República e que almejavam, de alguma forma, participar mais ativamente. A principal característica do movimento era o desejo quase utópico de moralizar o País, mas não havia propostas concretas de como fazê-lo nem um programa de governo definido. Acreditavam que a alta oficialidade estava a serviço das elites e que, com a implantação do voto secreto, seriam eliminados os vícios que permitiam aos oligarcas se manterem no poder.

Durante as eleições para a sucessão de Epitácio Pessoa, houve uma articulação entre os Estados do Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco, conhecida como Reação Republicana, no sentido de lançar Nilo Peçanha para a presidência e impedir a vitória de Arthur Bernardes, candidato da aliança Minas-São Paulo. Este último foi acusado de ser o protagonista do episódio das “cartas falsas”, publicadas no jornal Correio da Manhã e que continham uma série de afirmações ofensivas ao Exército. Apesar do clima de tensão que cercou o pleito, a vitória coube a Arthur Bernardes (1922-1926). Seu governo foi realizado quase que integralmente sob estado de sítio.

Arthur Bernardes

O primeiro ato dos tenentes, como reação à vitória de Bernardes, foi a tomada do Forte de Copacabana em 5 de julho de 1922, seguida de ataques ao quartel general do Exército. Cercados pelas forças leais ao governo, os rebeldes não concordaram em se render e, preferindo morrer, marcharam pela praia e enfrentaram os tiros contra eles disparados. Desse episódio, que ficou conhecido como a Revolta dos 18 do Forte, houve apenas dois sobreviventes: os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Embora tenha sido sufocada, a Revolta do Forte de Copacabana tornou-se um símbolo das lutas armadas que marcaram a década de 1920.

"Os 17 militares e 01 civil" do 18 do Forte de Copacabana em 1922. 


Em 1924, rebeldes tomaram a cidade de São Paulo, dando início a outro levante tenentista: a Revolução de 1924. Exigiam reformas eleitorais, a convocação de uma Assembleia Constituinte e o voto secreto. Sob o comando de Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, os tenentes conseguiram dominar a capital paulista por 23 dias, pois o presidente do Estado (governador) Carlos de Campos foi obrigado a fugir às pressas da capital, evitando assim sua prisão pelos tenentes.  
O presidente Arthur Bernardes declarou estado de sítio e enviou tropas para conter os rebeldes, que tentavam expandir seu controle para outras cidades. O tenente Juarez Távora tentou ocupar a cidade de Três Lagoas, mas foi derrotado com a concentração de tropas do governo federal em Bauru. 
A cidade de São Paulo não resistiu muito tempo aos bombardeios e ao fogo de artilharia, que atingiram os bairros do Brás, Mooca e Perdizes, além de outras partes da cidade como o centro: uma bala de canhão atingiu o claustro do Mosteiro de São Bento.

Destruição causada por bombardeio das forças federais contra os rebeldes na Av. Tiradentes em São Paulo.

Bombardeio das forças federais na Rua João Teodoro, centro de São Paulo.


A dificuldade da manutenção das posições ocupadas, os poucos recursos militares e o cerco das tropas federais foi crucial para a derrota do movimento que teve 509 mortos e cerca de 5000 feridos, sendo então  desalojados pelo Exército em 02 de agosto de 1924, favorecendo o retorno de Carlos de Campos para o palácio dos Campos Elísios, sede da Presidência do Estado, no centro da capital. 
Em 1925, nas proximidades de Foz do Iguaçu, os paulistas juntaram-se a outra coluna revolucionária que vinha do Rio Grande do Sul com o intuito de tomar a capital, Rio de Janeiro, e que também lutava contra o governo de Arthur Bernardes. Desse encontro, nasceu a Coluna Prestes.



Luís Carlos Prestes (LCP) é o "número 2"




Sob a liderança de Miguel Costa e Luís Carlos Prestes, conhecido como “o Cavaleiro da Esperança", os rebeldes percorreram 25 mil km em todo o território nacional, tentando sublevar as populações do interior contra o governo federal. Porém, a tentativa de conscientizar as massas populares contra a exploração das oligarquias não obteve sucesso. Os membros da Coluna acabaram  por asilar-se na Bolívia, cansados, sem munição e sem armas em 1927. A luta para levantar o Brasil contra a imoralidade fracassara, mas a República Velha também já dava sinais de intensa agonia.

Durante o mandato de Washington Luís (1926-1930), a crise econômica já se implantara e o governo se debatia, tentando contornar seus efeitos. A esse carioca que fez carreira política em São Paulo são atribuídas as frases "Governar é abrir estradas" e "A questão social é um caso de polícia", que demonstram a óptica das oligarquias cafeeiras.

Washington Luís

Com o Crash da Bolsa de Nova York em 1929, a cafeicultura brasileira entrou em crise e o governo viu-se "obrigado" a comprar toda a produção, que acabou sendo destruída por falta de local para armazenagem, e provocou questionamento por todo o País, além de ocasionar estragos na aliança política entre mineiros e paulistas.

Washington Luís, representante da oligarquia paulista, decidiu romper com Minas Gerais, lançando a candidatura de seu ministro Júlio Prestes, outro paulista, para a presidência. A cisão das oligarquias fez que os mineiros, liderados pelo frustrado governador Antônio Carlos, se unissem ao Rio Grande do Sul e a alguns políticos nordestinos, formando a Aliança Liberal, que lançou como candidato de oposição o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, ex-ministro de Washington Luís.

A máquina eleitoral funcionou mais uma vez, dando a vitória ao candidato situacionista, que recebeu cerca de um milhão de votos, 200 mil a mais do que Vargas, tudo isso sob intensas acusações de fraude. Mas a oposição não se deu por vencida e ensaiava uma reação para a derrota.
Pouco depois das eleições, ocorreu o assassinato de João Pessoa, governador da Paraíba e candidato a vice-presidente na chapa de Vargas. O crime, que teve como autor certo João Dantas, estava ligado a questões passionais e problemas da política local da Paraíba, mas acabou servindo como pretexto para os opositores, que culparam políticos de São Paulo pelo crime.

Luís Carlos Prestes, que estava exilado na Argentina, foi convidado para comandar o movimento revolucionário, mas ele já não mais compartilhava os ideais do tenentismo, passando a defender o movimento comunista, ao qual se filiara, recebendo orientações diretas do regime soviético. A Aliança Liberal transformou-se, assim, no comando revolucionário e o golpe estava em marcha.

A Revolução de 1930, que irrompeu em 3 de outubro, foi liderada pelos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, que receberam o auxílio dos tenentes refugiados na Bolívia.
Num movimento articulado, as regiões do Brasil foram, aos poucos, caindo nas mãos dos rebeldes. Depois do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina também aderiram, indo em direção a São Paulo, reduto dos donos do poder.

No Nordeste, Juarez Távora tomou o Recife com apoio da população local e, pouco tempo depois, todos os Estados nordestinos estavam sob o controle dos revolucionários. Em Minas Gerais, houve forte resistência por parte de grupos fiéis ao presidente, mas os rebeldes dominaram a situação.
Em São Paulo, talvez pudesse oferecer uma resistência maior e daí poderiam ocorrer  combates mais violentos. Na região de Itararé, divisa com o Paraná, começavam os primeiros tiroteios, quando, em 24 de outubro, chegou a notícia de que o alto comando das Forças Armadas havia deposto o presidente Washington Luís, o que abreviou os possíveis conflitos.

O presidente Washington Luís (de chapéu) no momento de sua deposição pelos militares.


O governo foi entregue a Getúlio Vargas e a Constituição de 1891 foi abolida. A economia sofreria modificações, a agricultura seria diversificada e a indústria passaria a ser incentivada. Porém, essas modificações pouco alteraram a relação de forças que governavam o País, uma vez que o operariado continuou a ser explorado enquanto as camadas dominantes ainda estavam intimamente ligadas ao capital externo.

Vitorioso no golpe de Estado, Getúlio Vargas foi empossado presidente pelos militares.