As Ricas Horas do Duque de Berry

As Ricas Horas do Duque de Berry
As Ricas Horas do Duque de Berry. Produção dos irmãos Limbourg - séc. XV. Mês de julho

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O mundo romano (Parte III)

PERÍODO IMPERIAL

A história imperial romana pode ser dividida em Alto Império (do século I a. C. ao III d.C.), fase caracterizada pela manutenção das conquistas e extensão do modo de vida romano, e Baixo Império (século III ao V d.C), quando os romanos entraram em decadência devido a um conjunto de fatores que culminaram com a chegada dos povos bárbaros.
Em 27 a.C., Otávio entrou em Roma como “salvador da República” e passou a concentrar todos os poderes em suas mãos, recebendo os títulos de Imperator (chefe supremo dos exércitos), Sumo Pontífice (chefe supremo da religião romana), Príncips Senatus (primeiro cidadão do Senado) e, finalmente, o título de Augustus (divino) que, até então, era exclusivo dos deuses. Assim, Otávio Augusto governou como primeiro imperador de Roma até 14 d. C., organizando o Império e reforçando as fronteiras (limes). Criou a guarda pretoriana para atuar dentro da cidade de Roma e suas poucas conquistas foram compensadas por sua obra de organização do comércio, das estradas e das rotas marítimas. É importante destacar a figura de Mecenas, colaborador de Augusto, dono de uma grande fortuna e protetor das artes.



Otávio (imagem ao lado) sistematizou o Pão e circo como uma política de Estado, com o claro objetivo de evitar novas rebeliões de plebeus em qualquer parte dos domínios. Os sucessores de Augusto nos dois primeiros séculos do Alto Império gozaram de estabilidade social e prosperidade econômica, além de controlar sem maiores sobressaltos os povos vizinhos. Foi essa a fase conhecida como Pax Romana. Estradas foram construídas para os mais diversos pontos do império a fim de viabilizar a administração e o rápido deslocamento das tropas para conter rebeliões.
Com a morte de Otávio Augusto, o poder passou a seus parentes mais próximos. A dinastia Júlio Claudiana (de 14 a 68) era composta por Tibério, que continuou a obra de Otávio, ampliando os serviços públicos em Roma, bem como as finanças públicas. Depois, veio Calígula, que começou com uma boa administração, mas, após uma série de problemas e tragédias particulares, ficou mentalmente desequilibrado e acabou assassinado pela guarda pretoriana. Seu sucessor foi Cláudio, que ascendeu ao poder aclamado pelo exército e conquistou a Bretanha.  
Nero foi o último governante dessa dinastia. Perseguiu os cristãos, a quem culpou pelo grande incêndio de Roma, sendo na verdade, ele próprio o responsável. Com sua morte, iniciou-se a desordem militar, assumindo o poder sucessivamente os generais Galba, Othon e Vitélio.
A próxima dinastia ficou conhecida como a dos Flávios (69 a 96). O primeiro governante foi Vespasiano, que pacificou a cidade após um período de guerra civil, construiu o Coliseu e sufocou em 70 uma revolta na Judeia, com a expulsão dos derrotados. Dessa forma, originou-se a dispersão dos judeus pelo Império: Diáspora judaica.
Durante o governo do seu sucessor, Tito, ocorreu a famosa erupção do vulcão Vesúvio e a destruição da cidade de Pompéia em 79. Depois, veio Domiciano, que reforçou as fronteiras do Império e acabou morrendo em uma conspiração palaciana.
A partir da dinastia dos Antoninos (86 a 192), os imperadores conseguiram uma melhor estabilização, e o Império Romano atingiu o seu auge. O crescimento econômico expressivo foi acompanhado de um significativo florescimento cultural. Seus representantes foram Nerva, Trajano, Adriano, Antônio Pio, Marco Aurélio e Cômodo.



Com o assassinato do último Imperador Antonino, Roma caiu novamente em um período de turbulências, interrompidas pela ascensão de Septimus Severos, que se impôs com o auxílio do exército da Síria. Seus sucessores foram Caracala, Heliogábalo e Severo Alexandre.
Dentre os imperadores da dinastia dos Ilírios, pode-se destacar Diocleciano que, com o objetivo de melhorar a administração do território para resistir às invasões, dividiu o Império em quatro partes (Tetrarquia), que seriam administradas simultaneamente sem que um dos imperadores (dois césares e dois augustos) tivesse predominância sobre os outros.

Cabeça do colosso em homenagem a Constantino - Museu dos Conservadores, Roma, Itália.


Outro imperador dessa dinastia foi Constantino. Em 313, através do Édito de Milão, deu liberdade de culto àqueles que seguiam o cristianismo. Transferiu a capital para a cidade de Bizâncio, no Oriente, a qual foi reconstruída e rebatizada com o nome de Constantinopla.
O Imperador Teodósio transformou o cristianismo em religião oficial do Império através do Édito de Tessalônica em 391 e, assim, perseguiu os pagãos (aqueles que não se converteram ou simplesmente desconheciam a religião). Estava evidente que não era possível eliminar essa nova religião, originariamente uma seita ou facção do judaísmo, e Roma rendeu-se, buscando sobreviver com o apoio dos cristãos.
Com a morte de Teodósio em 395, o Império foi dividido entre seus dois filhos: Honório ficou com o Império Romano do Ocidente, que compreendia a atual Europa, fixando sua capital política em Milão; Arcádio ficou com o Império Romano do Oriente, que compreendia o atual Oriente Médio e o Egito, fixando sua capital em Constantinopla.
A decadência do Império Romano está ligada a um conjunto de fatores, todos desenvolvendo-se a partir do século III, e que podem ser assim resumidos:
·       enfraquecimento militar, devido às constantes intrigas no alto escalão do exército numa disputa sem fim pelo trono, uma vez que o título de imperador não era mais hereditário;
·        crise do escravismo, uma vez que, com o fim das conquistas por volta do século III, a diminuição no número de escravos implicou a redução da produção e, em contrapartida, o aumento de preços;
·        chegada dos “bárbaros”, que, na verdade, migravam para o Ocidente tentando obter refúgio seguro para a investida das tribos de hunos, chefiadas por Átila, conhecido como “o flagelo de Deus”.
Átila atravessou a fronteira junto à Gália, onde enfrentou uma coligação de legiões romanas e exércitos bárbaros. Obrigado a bater em retirada, dirigiu-se, então, para a própria cidade de Roma, destroçando a penúltima legião romana ao norte da península. Os hunos chegaram às portas da cidade, mas decidiram se retirar no último momento, fundando um reino huno de limites incertos fora do império. Com a morte de Átila, eles voltaram a lutar entre si e deixaram de oferecer perigo a Roma.
Com o fim do perigo huno, Roma encontrou-se indefesa e à mercê de seus, outrora, aliados: os bárbaros. As invasões e os saques multiplicaram-se, provocando um êxodo urbano. Em 476, Odoacro, rei dos hérulos, invadiu a cidade de Roma e depôs o último imperador, Rômulo Augusto. Essa data e esse episódio servem como marcos para determinar o fim do Império Romano e da Antiguidade.

O Pantheon: templo dedicado a todos os deuses, construído por Marcus Agripa no início da Era Cristã.


CULTURA

A cultura romana sofreu forte influência grega, mas soube desenvolver seus próprios padrões. Na literatura, não se pode deixar de mencionar Varrão, Cícero, Virgílio, Horácio, Ovídio e Tito Lívio.
Na arquitetura, os romanos construíram obras grandiosas para testemunhar a glória e o poderio de sua cidade. Os prédios públicos predominavam sobre todos os demais e podem-se destacar anfiteatros, arcos do triunfo, fóruns etc. A característica principal nas construções romanas (pontes, aquedutos etc.) eram os arcos.
Os romanos eram politeístas e adoravam divindades com forma humana, sendo que alguns correspondiam aos deuses gregos como Júpiter (Zeus), Juno (Hera), Vênus (Afrodite), além de terem deuses próprios, bem como, o importante culto aos ancestrais.
A principal contribuição dos romanos para o mundo contemporâneo foi o Direito. Mais do que as leis, os princípios jurídicos que preconizam a justiça no mundo ocidental são de origem romana, marcados pela determinação dos direitos e deveres de cada um, além do estabelecimento do papel do Estado e do quanto este poderia intervir na vida privada.
Outro legado importante dos romanos foi a língua latina. É bem verdade que a propagação do latim deveu-se à imposição da cultura romana sobre outros povos, mas não há como desprezar a importância e a beleza das línguas latinas, como o espanhol, francês, português, galego, provençal, catalão, sardo e  romeno.
  
CRISTIANISMO: DE UMA SEITA À RELIGIÃO IMPERIAL
           
Detalhe do mosaico da basílica de Santa Sofia (séc. VI) - Istambul, Turquia.


O cristianismo foi uma doutrina religiosa que surgiu na Palestina na época de Otávio Augusto e se proliferou por várias partes do império, atingindo gradativamente todos os grupos da sociedade romana.
 Yeshua ben Josef (Jesus, filho de José em hebraico), era judeu e seus ensinamentos traziam muitos elementos das tradições judaicas e  pregava o amor ao próximo e o respeito às leis de Deus. Durante suas pregações, Jesus afirmava ser o filho de Deus enviado a terra para salvar os homens, simbolizando a chegada do messias e dessa forma, a concretização das profecias onde o escolhido por Deus salvaria o povo eleito. Jesus passou a ser conhecido como Cristo (o Salvador ou escolhido). Despertando a atenção do Sinédrio (conselho de rabinos), Jesus foi preso e entregue às autoridades romanas, sendo posteriormente crucificado durante o governo de Tibério, sucessor de Otávio.
Para o império romano, a figura de Cristo representava uma dupla ameaça, pois por um lado defendia o amor ao próximo, uma idéia pacifista muito contrária à estrutura belicosa e escravista dos romanos e por outro, negava a idéia do imperador ser um deus, pois para os cristãos só existia um único deus e este não era o imperador. Ao negar o imperador e sua divindade, os cristãos negavam o Estado romano e toda sua ordem.

Como representava uma ameaça, o cristianismo foi perseguido duramente, tendo os cristãos se tornado atração dos Circos, onde eram devorados por animais selvagens ou então queimados vivos. Mas em virtude de sua mensagem pacifista e de pregar uma vida após a morte para os seus seguidores mais fiéis, o cristianismo teve uma grande adesão entre as camadas mais baixas da sociedade (plebeus, escravos e até soldados) e posteriormente foi aceito pelos círculos dominantes da sociedade, quando deixou de ser perseguido pelo Édito de Milão em 313 d.C. por ordem de Constantino e passou a ser tolerado, sendo que naquela altura, já existia um grande número de cristãos que escondiam sua condição, fenômeno conhecido como criptocristianismo.

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